Martelo
Falo da dor com presença e propriedade Da dor que dói, da que espeta e da que arde 
Falo da dor que alimenta esta saudade 
Falo da dor que te abandona e que me invade 
Dor de espinho cravando fundo a carne 
Dor de osso ainda vivo e triturado 
Dor de quando, ainda moço e já bem tarde 
Vi mistérios de esfinge desvendados 
Dor de pedras que atingem passarinhos 
Dor de aborto quando o morto era esperado 
Dor do dia que o filhote deixa o ninho 
Dor de peixe que nadando é afogado. 
Dor de morte escondida no segredo 
Do sangue que pulsa contaminado 
Dor do encontro do martelo com o dedo 
Dor de membro putrefeito e amputado 
Dor que infere sobre a singularidade 
Do vivente que, por estar vivo, dói 
Dor que rompe que corrompe que corroe 
Dor que grita, dor que dói na eternidade 
Falo da dor com presença e propriedade 
Dor que dói dor que espeta dor que arde 
Da dor que grita dor que dói na eternidade 
De dor eu falo com presença e propriedade.